domingo, 7 de outubro de 2007

Nascimento de Silvas, Matias, Netos e afins

Aproximadamente, umas duas horas atrás, creio que às 23:00 horas, por aí, entrei no rol de cariocas – e por que não brasileiros – que, enfim, pode se sentar num bar com um chopp e discutir coerentemente quem é o Capitão Nascimento (ou não). Claro, ressalto que é um rol pequeno e que inclui um grupo bem menor ainda. Talvez, o micro do micro dentro de um grande macro. E isso por dois motivos: Acredito veementemente, não por ideologia ou por ser politicamente correto, que fui um dos únicos e poucos cariocas que não assistiu ao filme Tropa de Elite na versão pirateada. Assim como deixar de ver a novela das oito da Globo – e há tempos consigo viver sem –, tentei resistir à tentação de ver o filme na segurança do meu lar comendo pipoca e deitado no sofá com minha namorada.
Então, me desloquei da pacata Mesquita, no subúrbio, onde já temos nossos PM’s-Heróis, conhecidos por todos por fazerem “justiça” com suas fortes mãos, mas com suas identidades secretas secretas (entendeu o “secretas secretas”?), com meu carro 1.0 ano 97 com o seguro vencendo esse mês, para pagar três reais a um flanelinha que prometeu ficar até às 23:30 “vigiando” e se eu não pagasse, provavelmente, “puniria” os pneus e a pintura com chave de fenda (aqui, faço a doce referência ao livro do louco Foucault “Vigiar e Punir”) para assistir o filme na tela que emite a sétima arte, mesmo sem saber qual é a primeira, a segunda, a terceira...
Segundo, me sinto uma minoria do micro dentro de um outro micro no macro, por entender que o Capitão Nascimento não é um herói, que soldado do Bope morre, também pode ser corrupto, isso não privilégio de ninguém, que o Bope também faz parte da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e, por fim, sim, nós universitários, intelectuais, pseudo-intelectuais, festeiros, gente de rave, micareteiros, roqueiros, punheteiros, etc, financiamos o tráfico baseados nos pequenos baseados queimados junto aos neurônios nas festas dos DCE’s da vida, nos banheiros, nos nossos quartos, na rua, na chuva ou numa casinha de sapê. Mas mesmo assim, jogue suas mãos para os céus: VIVA O CAPITÃO NASCIMENTO! Afinal, melhor ele que os heróis dos enlatados americanos. Melhor discutir quem é ele, quem somos nós que nos modelar by USA. E mais um sim, talvez, dois: Precisamos sim, ver, “sentir” a realidade que nos cerca em cercados dos condomínios de luxo de uma Zona Oeste que pensa ser Zona Sul (A Barra da Tijuca continua linda, a Barra da Tijuca fevereiro e março...). Ah, você pensa que o morador da Baixada Fluminense quando fica rico vai morar aonde?
Foi a última sessão de cinema mais cheia que já assisti, tirando, é claro, as do Cine Ires (ops! Eu falei isso?). Não vou entrar no mérito do Palácio ser um cinema antigo, localizado no Centro do Rio de Janeiro, com ampla sala, etc. Ainda assim: estava cheio e com uma platéia educada, isso explica o fato d’eu odiar as salas de cinema dos Shoppings, não importa o horário da sessão. Seu vizinho de poltrona sempre vai jogar pipoca em alguém, falar alguma merda e no final do filme bater palma! Meu deus, tem gente que bate palma no cinema!
Mas voltei pensando, afinal penso, logo desisto, não, não... Penso, logo assisto. Não! Penso, logo existo. Pensando na realidade da PM, talvez do Rio, talvez na intelectualidade brasileira – e por que não mundial –, talvez no Fernando Gabeira, ou ainda, naquela vez que fumei com você, não com você, é rapá, com você... Lembra não? Mas eu também não... Pensei. Pensei. Pensei... E cheguei à conclusão que não há conclusão nenhuma. Mas você lembra rapá? Lembra não? Ô rapá, tu lembra...
Não sei responder, não estou aqui para isso, se Cidade de Deus foi melhor ou pior, ou se Tropa de Elite virará tese de doutorado como Chico Buarque. Quiçá o impacto sócio-cultural que teve Chico Buarque afirmar que dá uns tapas de vez em quando e o Marcelo D2 ter tido uma banda que se chamava Planeta Maconha não ter tido tanta repercussão. Não sei responder, também, a pergunta de um aluno meu do 2º Grau, que hora e meia assiste as minhas aulas de História um tanto alto, sobre ser tão mais tranqüilo fumar na Zona Sul nas doces e acaloradas areias de Copacabana, enquanto que em Mesquita ele vive “tomando tapa na cara dos home” ou, ainda, “dando arrego”. Talvez, uma “Arqueologia do Saber” responda. Mas, definitivamente Tropa de Elite é o inevitável nascimento de Silvas, Matias, Netos e afins. Aliás:
- Menino, o que você quer ser quando crescer?
- Soldado do Bope, professor!
- E você? Quem é seu herói?
- Pô, era o Jacksson da novela da Record. Mas agora eu quero ser o Cap. Nascimento.
E enquanto isso... No Palácio da Justiça... Santa marijuana Homem-Morcego, esconde isso que é flagrante! Calma, calma Menino Prodígio, somos artistas, aparecemos na TV, temos residência fixa na Morcego-caverna, pagamos os impostos... isso não vai dar em nada!

This is the end...

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