sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O silêncio são palavras?

Por muito tempo, depois de muito tempo, quebro meu silêncio, em contraponto, ouço a chuva cair lá fora. Eu aqui dentro.
Confesso que me ausentei. Sou uma pessoa de ausências, mas a vida prega peças curiosas. Faz exatamente uma semana, se considerarmos o agora como a quinta-feira que já se foi, que recebi a triste notícia que o pai de um grande amigo meu havia morrido.
A notícia veio pelas ondas cibernéticas do MSN. Após o frio comunicado, minha amiga me ligou e pude ouvir sua voz compenetrada me contando os detalhes sobre o enterro que já havia sido. Pensei, enquanto suas palavras soavam no meu ouvido: “(...)”.
Hoje, fomos os dois, eu e essa amiga, que mantêm uma semelhança enorme comigo, visitar o rapaz simpático que me possibilitou um dia ter tido a honra de conhecer seu pai.
Quando o vi, e já fazia tempo, só pude abraçá-lo sem encontrar palavras, mas as palavras eram dele. Relembramos o discurso do sábio quando esse meu mesmo amigo viajou à França para complementar seu doutorado. Calado, me lembrei que chorei naquele dia. À minha frente uma foto sorridente do mesmo senhor que me olhou no fundo dos olhos e me disse que eu conseguiria. E eu consegui. Creio que hoje, pela manhã, recebi o último e-mail da minha orientadora a respeito de sua análise do meu último capítulo e minha conclusão. Num e-mail simples, ela decretou: “Seu capítulo 5, que gostei muito, e conclusão estão liberados. Hoje vou para Praia Vermelha, mas amanhã ficarei em casa ate às 19h. Me ligue, ok? Abração, Eu”
Lembrei do pai desse meu amigo. Não preciso de nomes. Nem sei quem sou nesse mundo. Mas suas palavras ainda ecoam em mim. Na época eu passava por problemas, não sabia nem se ia passar na seleção de mestrado. Passei e aqui estou, depois de muitas semanas em claro aprontando tudo, aqui estou, ainda com o sono atrasado, com olheiras enormes. Porém, assim que saí daquela casa, onde, pessoalmente, reafirmo que reside o amor, apenas sorri.
Aqui estou sabendo que tudo se esvai rapidamente. Não há dúvidas. Mas, também, estou firme na certeza de que nada é por acaso e de que no fundo, no fundo, o silêncio são as palavras.
Por isso, só pude sentir o beijo gostoso de minha mãe em minha cabeça. Não sei se por perdão ou pedido de desculpas por minha quarta-feira complicada. Só pude fazer planos com meu pai sobre uma possível reviravolta em minha vida profissional e a perspectiva de poder, para nós, pagar sem ser em parcelas o seguro do carro popular que ele ainda paga para que eu desfrute.
Por isso hoje, só pude ir dar minha aula costumeira e voltar para casa cansado e, inevitavelmente, sem pagamento. Pude voltar para casa e olhar meus pais e pensar que a vida se esvai, mas que não há silêncio entre nós. E que no fundo, no fundo, me contradisse ao dizer a pouco que o silêncio são as palavras. Talvez, um beijo na cabeça, um sorriso, substituam o silêncio, substituam as palavras e resumam o que é família.
Uma mesma família que se une na morte. Uma mesma família que vê no ato da perda a conquista de um novo caminho.
Seu Nonato, muito obrigado. Onde o senhor estiver, muito obrigado.

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