segunda-feira, 25 de maio de 2009

Encaixotando a vida

É
talvez
daqui eu vá ficar
um tempo.
Pois
sei lá
daqui eu ouço
o vento.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Por que Tom Jobim me faz chorar?

A vida tem algumas incógnitas. A minha tem umas que não sei analisar e, conseqüentemente, não sei responder. Uma auto-análise rápida me permite afirmar que sou uma pessoa sensível em alguns pontos e fria em muitos outros: Não tenho medo da morte (da minha, nem dos outros); creio em Deus até o ponto em que isso não atinja um estancamento na minha vida; não acredito no ecumenismo em nenhum sentido; choro muito e por coisas variadas.
Momentos de choro são complicados de se definir. A gente chora por muita coisa ou por quase nada. Mas minha voz de hoje tentará responder um x de questão ao qual nunca me questionei muito e por isso nunca tentei resolver.
A música tem uma definição engraçada e que praticamente não varia em todos os tratados que vocês queiram pesquisar. Ela é por excelência “a arte dos sons”. E, ainda, segundo o livro por mim consultado: “É constituída de melodia, ritmo e harmonia”.[1] Em tese, eu até poderia afirmar que para haver música são necessários estes três elementos supracitados, porém, isso é contestável e eu realmente não sei a que pé estamos nessa discussão. Contudo, já ouvi e ouço de muitos músicos, quando escutam certo batuque eletrônico ou mesmo um repique solitário de tamborim (indo mais longe, o jovenzinho da favela cantarolando sou rap): “Isso não é música não...”.
Discussões quase ontológicas à parte, vou parar com os devaneios aqui e fixar-me no que é por direito meu objetivo: Choro ouvindo Tom Jobim.
Não sei se pela ausência do Tom Jobim, pois um rapaz de 25 anos não aproveitou em nada os momentos criativos e produtivos de um maestro que faleceu em 1994. Àquela época eu estava mais preocupado com outras coisas. Não sei se choro pela música em si. Pelos sons. Pela melodia, pelo ritmo, pela harmonia, sejam dele ou recriadas por ele.
Definitivamente, o senhor Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, conseguiu como nenhum outro, talvez, o Villa-Lobos (que ninguém me bata aqui por preferir o primeiro citado ao primeiro que veio...), conseguiu reproduzir tão bem o que eu entendo como música, veja que digo música, no caso só me valendo da definição dada pelo livro do grande Almir Chediak.
Já falei outras vezes, não sei se aqui ou lá no submundo de algum lugar, sobre o disco Stone Flower e é de longe o que mais me tira lágrimas dos olhos, do peito, da pele...
A belíssima “Children’s Games”, que mais tarde viraria “Chovendo na Roseira”, me dá uma louca vontade de ter uma filha. O casamento está perto, os filhos é que vão longe de mim, por enquanto, apenas por enquanto... Ela me dá uma coisa de jardim, de primavera, de casa arejada e de dias felizes.
“Stone Flower”, canção que dá nome ao disco, me remete ao nordeste, região de contrastes e múltiplas culturas que o tempo, que o estudo, que os planos me fizeram escolher como novo lar e olha que o que vos fala não é um historiador regionalista, mas um puro medievalista, desses que se arrepiam ao ler um documento em castelhano medieval, em galego medieval, essas coisas... Mas o nordeste tem uma coisa, a música do nordeste, a boa música do nordeste tem uma coisa. O pífano, a zabumba, a sanfona... A organização melódica, uma coisa meio moura! Olha só!
Destrincharia aqui cada canção e os significados emotivos que elas me trazem no passado, presente e, talvez, até o futuro. Mas do futuro eu não... As especulações eu deixo para os economistas – esses maravilhosos malabaristas.
Por fim, não posso deixar de falar da canção “Amparo” que nas hábeis mãos de Vinicius de Morais e Chico Buarque virou “Olha Maria”, no clássico disco do segundo “Construção”.
O maestro me faz chorar, pois os sons que ele produziu não ficam nos meus ouvidos, eles extravasam minha alma e desse transbordar é que vêm as lágrimas.

[1] CHEDIAK, Almir. Harmonia e Improvisação: 70 músicas harmonizadas e analisadas (violão – guitarra – baixo – teclado). Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 1986. p. 41.