segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Carta a São Sebastião do Rio de Janeiro

Vista do Rio de Janeiro - Foto de Bruno Alvaro

Querido Rio de Janeiro, há quatro meses te deixei com algumas folhas caindo no chão e um vento frio prenunciando o inverno. À sua guarda, deixei meus pais, minha noiva e meu primo chorando aos pés do Galeão.
Prezado Rio, não pense que não te quis ou não te amo mais. Porém, foi a força do destino e a vontade de mudança que me trouxeram para cá. O que não significa que não haja um dia sequer que eu não pense em você, nas tuas praias, tuas matas, as favelas e o teu sol.
Confesso que ainda cultivo hábitos cariocas como a cerveja gelada e o futebol. Mas, nas mesas de bar, sinto falta dos brindes animados da juventude no Centro Antigo, em pés sujos como o Bar das Putas e o Araponga. Meu Rio de Janeiro, vou eu em alta madrugada te exaltando por aqui!
Sei que o nosso relacionamento sempre foi confuso como o chocalhar dos trens lotados que cortam tua Baixada Fluminense e teu subúrbio. Tantas cascas duras em Cascadura e Madureira madrugueira. Como eu gostava de ir ver Ana em Fazenda Botafogo, aqui e ali em Acari. Depois seu riso tão branco e amável em Del Castilho e sentar na praça pr’á nos divertir – que saudade do Subúrbio!
Da Zona Norte guardo as noites na Praça Vanhargem, na Tijuca, dos amigos, da sinuca! A Lapa no Centro, a Lavradio lotada, a gafieira no Rio Scenarium, a caipirinha na frente do Circo Voador. Que saudade do bondinho de Santa Teresa, de sua vista realeza e dos seus muitos bares acesos.
Na Zona Sul me perdia com as luzes de Copacabana, com a beleza da Urca, com o charme dos cinemas de Botafogo.
Meu caro Rio, há quatro meses estava eu sentando no Amarelinho comendo codorna recheada, degustando um bom chope gelado e ao lado da minha bela mulata. Há quatro meses. Saímos para caminhar abraçados depois na Cinelândia, com uma lua grande no céu e um ventinho fresco que chamava a madrugada, ameaçamos uns passos rasos no meio da praça... Cheios de graça.
Amigo São Sebastião do Rio de Janeiro, minha flauta andou muda, mas, ainda ontem, ensaiei Corcovado e Futuros Amantes só pensando em ti. Uma coisa meio tamborim é meu coração por aqui, se eu ouço um chiado na fala de alguém, me sinto um pouco aliviado de não ser o único carioca nessas terras distantes daí!
Uma coisa meio Vinicius de Moraes essa minha carta para ti, eu sei! Mas assim como o poetinha quero eu voltar pr’aí.
Um dia, quem sabe, meu Rio de Janeiro, minhas cartas diminuam em suas linhas o peso que tem o assunto da saudade. Quem sabe?
Eu só sei, que, por enquanto, vou levando e sonhando. Ouvindo samba. Te cantando, sozinho por aqui. Agora, meio mórbido e nostálgico, eu queria muito te pedir se acaso eu padeça, morra aqui, que você me aceite, me receba novamente em teus braços, pois no fim da minha vida, é a terra carioca que eu quero para mim.
Meu Rio de Janeiro, um forte abraço, eu demoro, mas não tardo, a aparecer por aí!

3 comentários:

G. Alvaro disse...

Bom, muito bom.

Plínio Fróes disse...

Bruno, o seu Rio espera por você de abraços abertos. Volte correndo para a cerveja de garrafa na calçada da Rua do Lavradio e para a gafieira do Rio Scenarium. Lugar de poeta é no meio da poesia... Lugar de gente feliz é aqui...
Plínio Fróes.

Bruno Alvaro disse...

Valeu por falar n'O Ventríloquo pessoal! A voz de vocês é que dá vida a isso aqui!

Caro Plínio, logo, logo pretendo despejar poesia pelo Rio de Janeiro, por enquanto, ah, por enquanto! Vou despejando por aqui, querendo ou não, é minha segunda casa! E valei-me Deus, até que não é tão ruim!

Abraços