domingo, 3 de janeiro de 2010

O sistema

Nem sei que horas são, meu fuso horário anda confuso, nem o dia ou data sei direito. “A culpa é do sistema” penso eu.
Acordei cedo, melhor, fui acordado. Mas já era tarde. Meu café ou almoço – quem sabe? – foi croquete do português, meu pai quem comprou. Levantei-me nu. Durmo nu. Não como naquele livro do Veríssimo. Não é? Acho que sim, não tenho certeza, Só sei que não é do Jabor. E por falar em literatura, dei pra começar a ler “O Cheiro do Ralo” do Mutarelli, comecei sentado na latrina, curioso isso. Já acordei sabendo que o dia não seria bom. “A culpa é do sistema” agora eu sei. O livro não é meu. É da minha cunhada. Devolvo depois. Mesmo sem ela ter emprestado.
“A fama de poeta te persegue, não?” foi o que eu me disse enquanto coçava a bunda, indo tomar banho. Sento antes na latrina. Vou tomar banho. “O homem nu” é uma crônica do Fernando Sabino, é uma crônica num livro do Fernando Sabino chamado o “O homem nu”. Isso aqui também é uma crônica, “culpa do sistema” digo eu enquanto escrevo. “Queria escrever um conto”, me disse de manhã quando fui acordado.
Acordei antes de ser acordado assustado. Uma mão estava sobre o meu peito e ronronava, me deu um sorriso e me chamou de “meu fofo”! “Meu fofo é o caralho” eu gritei. Acordei. Acho que gritei de verdade, ao meu lado só um travesseiro. “Puta que pariu” eu me disse. “Tenho que perder a barriga” pensei de novo. Um homem que mora só tem o direito de mandar alguém tomar no cu. Semana que vem caso e não posso mais fazer isso.
Acordei com meu pai me ligando “tem croquete e tua mãe não vai fazer almoço. Tem croquete do portuga”. Sentei na latrina. “O Cheiro do Ralo”. O céu hoje deu trégua e estava azul. Vejo o céu da janela, sentado no vaso. Nem sei que horas são. A culpa é do sistema.
Novo ano, mais um mês. As mesmas contas. O sistema me disse mês passado que eu pedi algo que não pedi. Me disse de novo esse mês. Especificou data. Foi exatamente no dia quatro de novembro”. Me apareceram duas contas que eram para ser uma só. Como eu serei daqui uma semana. “Você acredita nessa coisa de ser uma só carne, como diz na Bíblia?” me questionei enquanto escovava os dentes. Aliás, ganhei uma Bíblia de presente de uma amiga. “Bíblia da Família”. Estou lendo o Livro de Jó. Ele é foda. Sofre, sofre, mas no final se dá bem. Mas eu não sou Jó. “No tempo de Jó não havia o sistema” digo eu agora na frente do laptop. Já li toda a Bíblia três vezes... e o Livro de Jó, a história de Jó nunca me saiu da cabeça. Não se pode falar o versículo do pó viemos e para o pó voltaremos para um drogado. Isso não é meu. Não é frase minha. Vi na TV Pirata... Anos bons aqueles. Mas o sistema fode tudo.
Como meus croquetes. Volto pra casinha. O dia inteiro deitado no desconfortável sofá cama. Aqui na casinha é assim, sala quarto, sofá cama, cozinha escritório. “É o charme das kitnetes”, penso eu. Meu quarto na casa de baixo, na casa dos meus pais, não é mais meu. Fico isolado na casinha. Pego o Mutarelli e me sento no quintal. Há uma jaqueira enorme quase dentro da casinha, dentro da varanda da casinha. Já leu “Estorvo” do Chico Buarque? É mais ou menos como fizeram com o fícus da história. Aliás, lendo o dicionário, hábito esquisito que mantive da adolescência, descobri que figo também significa “úlcera do ânus ou outro órgão pudendo”. Puta que pariu! Mas figo não tem nada haver com fícus. Que se foda. Pudendo por sua vez tem vários significados, entre eles “envergonhado, vergonhoso” – como esse texto. Ou “relativo ou pertencente aos órgãos genitais externos”, sendo assim, se não estou enganado, o dicionário encara o cu como órgão genital. O cu, por sua vez, nome chulo dado ao ânus (do latim anus), segundo o pai dos burros, é um “orifício na extremidade terminal do intestino, pelo qual se expelem os excrementos”, então não é um órgão genital. Mas todo mundo quer comer um cu, até mulher quer comer um cu e o sistema está comendo o meu. Por isso eu penso que todo homem e mulher que se preze tem o direito de mandar alguém tomar no cu. Que não seja o meu. Porém, o maldito sistema há dois meses come o meu, o que agora em janeiro me gerou um figo. Tudo é circular. A tese do Muterelli no “O Cheiro do Ralo” até que se comprova. O olho do cu!
Em novembro as duas contas que deveriam ser uma só, me renderam quase R$ 800,00 de rombo no orçamento. Paguei apenas centro e trinta e cinco. O olho do cu me tiraram. Parcelei o restante com a primeira para janeiro, pensei que tudo se normalizaria. O olho do cu. Mas hoje descubro que o mesmo sistema alega que eu disse ao sistema para suspender o sistema de conta única. O olho do cu que fiz isso! Sendo assim, em dezembro, o que pago agora em janeiro, o sistema gerou duas contas que deveriam novamente ser uma só. Uma no valor de R$ 356, 14, exatos. O olho do cu? Ainda não! E outra no valor de R$ 308, 45, exatos. Figo. Vai tomar no cu! Não o jogador português! Portugal tem bons vinhos, bons azeites e de lá é o pastelzinho de Belém, apesar de Belém ficar na Cisjordânia. Mas ninguém me ouve. Falo com a máquina. Ela pede para eu repetir, eu repito: “vai tomar no cu!”. Penso agora na frente do laptop: “vai tomar no cu!”. Dois banhos. Uma porrada de mariposa dentro da casinha. Meu celular piscando. Uma mensagem. “De nada” penso eu. Saí dando pazada feito louco. Quero as mariposas mortas. Filhas da puta! “Alô?”. “Oi? Vai tomar no cu!”. Que vontade de gritar. Mas a culpa é do sistema. Nervoso.

2 comentários:

G. Alvaro disse...

Crônica?


Será?


Enfim, fraco. A coisa do dicionário se perde mais em vc do que no leitor. Pouco sentido. Estouro.

Vale como grito, mas se fosse só pra gritar não escreveria, né?


feliz ano novo

Bruno Alvaro disse...

Hahahahahaha! Boa. O problema é: quando se tem 1500 rés de contas para se pagar a gente peca na mão!
O importante é que você leu... E sim, mesmo só para gritar eu escrevo!