quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O sinal vermelho

Tentava esquecer seu rostinho angelical. Mas, assim como tentar reter a areia fina entre os dedos, deste modo era a força que eu tinha. Pouca coisa. Restava-me então chorar escondido, feito menino. Ajoelhar-me no chão. Ver em tudo um pouco mais de algo sombrio e acostumar-me com a depressão. Isso tudo por um simples rostinho angelical daquela criança vendendo bala no sinal.

domingo, 8 de setembro de 2013

A cobrança

A retomada da escrita se dá pelos caminhos tortuosos da vivência. Da dor. Do sofrimento diário da folha em branco. Porém, de pouco a pouco, vamos os dois, os três – todos nós – sobrevivendo e buscando secar as lágrimas. Retirar dos lábios o gosto de soro, o rosto queimado e vermelho por tanto chorar.
Como uma enxurrada, levando tudo: as casas, as árvores, os balanços e os escorregos – tudo. Assim surge a escrita. Ao som de uma canção, de um suspiro, do vento.
Não nos resta muito tempo. Viver é preciso, pois o fim já sabemos. Todos nós já sabemos. Então o que fica é a vida que levamos, os laçamos que fizemos ou rompemos. O peso das bagagens. Aquelas empoeiradas sobre o guarda-roupa. Aquelas extraviadas no caminho.
Mas, a gente guarda um sorriso. Nem que seja um sorriso de adeus.

E a escrita é retomada e preenche o dia, a noite, o dia e a noite. Alicerça as lembranças, recupera o futuro. Ela, a escrita. Que te toma de assalto os sentimentos, que te ajuda a abafar os sentimentos. Esmagar o ódio, o rancor, o ócio, a dor. Ela. Escrita. Em letra de forma. Redonda. Redonda como criança rechonchuda. Dura, leve. Leva e traz o bafo quente das manhãs de sol. Sim, ela retorna. Sempre vem cobrar o devido. A ausência, o grito. Ela te cobra. Pois para a escrita não deve haver esquecidos. Somente omitidos.

terça-feira, 19 de março de 2013

A canção do ontem

Se me perguntam como vou, eu sempre respondo que vou bem. Afinal, é sempre bom ir a algum lugar. Dia desses, lavando a louça me dei conta de necessitar de uma boa solidão e bom solitário, para ser feliz, necessita estar ao lado de quem entende isso. Tenho sorte, muita sorte. Nos meus rompantes de humor ou no sorriso amarelado, estou sempre fugindo do que abomino: a tristeza.
Não vejo muita opção a não ser conversar comigo mesmo no meu apartamento, pois, tem dias, que até o céu azul me atormenta.
Por isso, se me perguntam como vou, eu sempre respondo que vou bem e a pé, para demorar um pouco mais.