Tentava esquecer seu rostinho angelical. Mas, assim como tentar reter a
areia fina entre os dedos, deste modo era a força que eu tinha. Pouca coisa.
Restava-me então chorar escondido, feito menino. Ajoelhar-me no chão. Ver em
tudo um pouco mais de algo sombrio e acostumar-me com a depressão. Isso tudo
por um simples rostinho angelical daquela criança vendendo bala no sinal.
ventríloquo [Do lat. tard. ventriloquu.] Adjetivo. Substantivo masculino. 1.Diz-se de, ou aquele que sabe falar sem abrir a boca e mudando de tal modo a voz que esta parece sair de outra fonte que não ele. E assim são os textos. Ao menos os que escrevo. Eles têm várias vozes. Minhas várias vozes. Em tempo. Tempos nublados ou com sóis. Não há muito o que dizer sobre mim. O resto está aí. Várias vozes sem mover meus lábios. O ventríloquo.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
domingo, 8 de setembro de 2013
A cobrança
A retomada da escrita se dá pelos caminhos tortuosos da vivência. Da
dor. Do sofrimento diário da folha em branco. Porém, de pouco a pouco, vamos os
dois, os três – todos nós – sobrevivendo e buscando secar as lágrimas. Retirar
dos lábios o gosto de soro, o rosto queimado e vermelho por tanto chorar.
Como uma enxurrada, levando tudo: as casas, as árvores, os balanços e os
escorregos – tudo. Assim surge a escrita. Ao som de uma canção, de um suspiro,
do vento.
Não nos resta muito tempo. Viver é preciso, pois o fim já sabemos. Todos
nós já sabemos. Então o que fica é a vida que levamos, os laçamos que fizemos
ou rompemos. O peso das bagagens. Aquelas empoeiradas sobre o guarda-roupa.
Aquelas extraviadas no caminho.
Mas, a gente guarda um sorriso. Nem que seja um sorriso de adeus.
E a escrita é retomada e preenche o dia, a noite, o dia e a noite. Alicerça
as lembranças, recupera o futuro. Ela, a escrita. Que te toma de assalto os
sentimentos, que te ajuda a abafar os sentimentos. Esmagar o ódio, o rancor, o ócio,
a dor. Ela. Escrita. Em letra de forma. Redonda. Redonda como criança
rechonchuda. Dura, leve. Leva e traz o bafo quente das manhãs de sol. Sim, ela
retorna. Sempre vem cobrar o devido. A ausência, o grito. Ela te cobra. Pois
para a escrita não deve haver esquecidos. Somente omitidos.
terça-feira, 19 de março de 2013
A canção do ontem
Se me perguntam como vou, eu sempre respondo que vou bem. Afinal, é
sempre bom ir a algum lugar. Dia desses, lavando a louça me dei conta de
necessitar de uma boa solidão e bom solitário, para ser feliz, necessita estar
ao lado de quem entende isso. Tenho sorte, muita sorte. Nos meus rompantes de
humor ou no sorriso amarelado, estou sempre fugindo do que abomino: a tristeza.
Não vejo muita opção a não ser conversar comigo mesmo no meu
apartamento, pois, tem dias, que até o céu azul me atormenta.
Por isso, se me perguntam como vou, eu sempre respondo que vou bem e a
pé, para demorar um pouco mais.
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