A retomada da escrita se dá pelos caminhos tortuosos da vivência. Da
dor. Do sofrimento diário da folha em branco. Porém, de pouco a pouco, vamos os
dois, os três – todos nós – sobrevivendo e buscando secar as lágrimas. Retirar
dos lábios o gosto de soro, o rosto queimado e vermelho por tanto chorar.
Como uma enxurrada, levando tudo: as casas, as árvores, os balanços e os
escorregos – tudo. Assim surge a escrita. Ao som de uma canção, de um suspiro,
do vento.
Não nos resta muito tempo. Viver é preciso, pois o fim já sabemos. Todos
nós já sabemos. Então o que fica é a vida que levamos, os laçamos que fizemos
ou rompemos. O peso das bagagens. Aquelas empoeiradas sobre o guarda-roupa.
Aquelas extraviadas no caminho.
Mas, a gente guarda um sorriso. Nem que seja um sorriso de adeus.
E a escrita é retomada e preenche o dia, a noite, o dia e a noite. Alicerça
as lembranças, recupera o futuro. Ela, a escrita. Que te toma de assalto os
sentimentos, que te ajuda a abafar os sentimentos. Esmagar o ódio, o rancor, o ócio,
a dor. Ela. Escrita. Em letra de forma. Redonda. Redonda como criança
rechonchuda. Dura, leve. Leva e traz o bafo quente das manhãs de sol. Sim, ela
retorna. Sempre vem cobrar o devido. A ausência, o grito. Ela te cobra. Pois
para a escrita não deve haver esquecidos. Somente omitidos.
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